segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Um estranho no ninho (Capítulo 3/Parte 2)

Nosso destino naquela tarde de domingo era a já mencionada Cave, localizada na Henrique Schaumann, distante algumas quadras de onde estávamos. Se para os outros garotos aquele era um passeio habitual, para mim ele possuía uma excepcional importância, pois era a primeira vez que ia a uma danceteria. Estava ansioso, sem saber ao certo o que encontraria, mas sentia-me feliz por aquela virada na minha vida, já que não aguentava mais a incrível pasmaceira de meu dia a dia, com tediosas voltas de bicicleta pelo bairro e infantis peladas disputadas no meio da rua.

A danceteria podia ser identificada de longe devido à grande concentração de pessoas existente diante dela. Situada quase na esquina formada pelo encontro da Henrique Schaumann - uma larga avenida, com oito faixas de tráfego - e a rua Cardeal Arco Verde, a Cave tinha como principal símbolo um carrão antigo erguido sobre um poste de ferro, vários metros acima do nível da rua.

Com o olhar atento para todos os detalhes, entrei na danceteria acompanhado por meus amigos. O ambiente, apesar de novo para mim, parecia familiar, provavelmente porque já vira muitos lugares parecidos com aquele em filmes e telenovelas. Uma grande pista de dança com formato circular ficava no centro da casa, cerca de um metro abaixo do nível do piso que a rodeava, repleto de mesinhas onde garotos e garotas proseavam. A escuridão ajudava a realçar o colorido das luzes que iluminavam a pista. E o som, muito alto, atrapalhava as conversas.

O local estava cheio, mas não lotado. Logo conseguimos um canto próximo ao balcão do bar para conversar, por mais difícil que fosse, e observar o movimento. Habituado ao ambiente burguês da Granja Viana, olhava com certa estranheza para os frequentadores da casa, principalmente para um grande grupo de garotos e garotas que faziam uma dança coreografada no meio do salão ao som de black music.

- Aqui rola principalmente house, black e pop rock, mas também toca um rockabilly animal, você vai ver - disse o Wilsão, atiçando minha curiosidade, afinal fazia dias que estava ouvindo aquela história de rockabilly.

Meu conhecimento sobre o tema até aquele momento era restrito a três discos: um do Bill Halley - que encontrara na coleção de vinis do meu pai -, uma coletânea com clássicos antigões do rock’n’roll e um lp do Elvis Presley. Esses dois últimos estavam em casa desde os meus nove anos de idade. O disco de clássicos era meu. Já o do Rei do Rock pertencia a um dos meus irmãos, o Mathias. Ambos haviam sido comprados durante um passeio ao shopping, quando meu pai parara em uma loja em busca de algum disco e, depois de muita insistência, deixara que também escolhêssemos um lp cada. Por que havíamos escolhido justamente aqueles dois vinis ainda era um mistério, mesmo após tantos anos.

Assim que a black music foi substituída pela house nas caixas de som, o Tieta nos incentivou a ir para a pista de dança: - Vamos dançar, galera, que ficar parado aqui não pega nada.

Após descer os degraus que nos separavam da pista de dança, formamos uma roda perto de um grupo com quatro garotas. Inicialmente inibido, aos poucos fui me soltando, tentando vencer a impressão de que todas as pessoas que estavam ali já haviam constatado minha total imperícia no quesito dança. “Deixa de história, Cláudio, ninguém tá nem aí pra você. Ninguém liga pro fato de você saber dançar ou não”, tentava me convencer, enquanto imitava os passos dos meus experientes amigos, procurando não fazer feio.

A essa altura o Tieta e o Nique já puxavam conversa com algumas meninas que dançavam ali por perto. Eu observava atentamente o bem sucedido avanço de meus novos amigos, admirado com a habilidade que demonstravam com o sexo oposto, principalmente porque eu não saberia sequer como abordar as garotas. “Porra, os caras são bons de papo”, pensava, observando a entusiasmada conversa que se desenrolava, inacessível, ao meu lado.

O suor já escorria por minha testa quando mudou a música que ditava o ritmo da domingueira. Finalmente chegara a hora do rockabilly, mas eu sabia que aquele som exigia um tipo de dança que, diferentemente do que acontecia até então, não permitia embromação. Ou você sabia dançar ou não. Por isso, saí do meio da pista e encostei num canto, acompanhado pelo Píter e o Wilsão. Nós, aliás, não fomos os únicos, pois a pista se abriu para os poucos que dominavam aquele antigo estilo de rock. Aproveitando-se da intimidade recém-adquirida com o grupo de garotas, o Tieta convidou uma delas para dançar. Imediatamente, Nique e Demente fizeram o mesmo. O senhor da pista, no entanto, era um outro garoto, que eu via pela primeira vez naquele preciso instante. Vestido como se vivesse nos anos cinquenta, o rapaz esbanjava habilidade nos rodopios com que conduzia sua parceira de dança.

- Quem é aquele cara ali, Wilsão?

- É o BB, conhecemos ele aqui, mas depois ficamos sabendo que ele é lá do São Domingos, um bairro colado no Bonfa. Ele já é rockabilly há algum tempo, tem um puta visual - respondeu o Wilson.

- É, e também dança pra caramba!

- É bacana, não é? Ele é gente fina, tá até dando umas dicas pra gente.

- Pô, muito louco! - Conclui, bastante admirado com a aparição daquele garoto cheio de estilo, que parecia saído de uma cena de “Nos tempos da Brilhantina”.

4 comentários:

  1. Há... aguardando os próximos capítulos... =)

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  2. Que incrível e inusitado isso, MUNDO pequeno eu fui um dos DJs do Cavve na Henrique Schaumann legal sua postagem.

    Um grande abraço.

    Branca

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    1. Nossa que show...branca n sei se vai lembrar...trampei no cave na seguranca....com o braulio,marcelo,edu negao...rs...epoca do drago...nene...o gerente wanni....etc...etc....muito legal aquela epoca.....um abracao irmao....ass: Muniz

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