sábado, 12 de junho de 2010

Noite de balada (Cap. 15/Parte 1)

- See you later, alligator!!! Tchu, tchu, tchutchu...

Minha voz desafinada ecoava pelo banheiro acompanhando a música de Bill Halley, enquanto ensaboava o corpo distraidamente dentro do boxe. Banhado pela água quente, meu tronco balançava de um lado para o outro, seguindo o ritmo do pioneiro do rock’n’roll. A diversão só acabou com algumas batidas fortes na porta do banheiro.

- Que foooi? - perguntei, sem ouvir a resposta, encoberta pelo alto volume da música e pelo barulho do chuveiro. Levei, então, minha mão direita até a torneira, fechando-a. Em seguida, abri o boxe e levei os dedos enrugados pela ação da água ao botão que regulava a altura do som, deixando que algumas gotas escorressem sobre o rádio.

- Oiii? Que foi?

- Você virou sócio da Sabesp? Isso é um banho ou uma danceteria? - questionou minha mãe, nervosa com o meu prolongado banho.

- Tá, tá, já vou sair. Só vou me enxaguar direito - respondi, ao mesmo tempo em que fechava a porta do boxe.

Abri novamente a torneira e deixei que a água caísse sobre o meu corpo, retirando o sabão que o cobria. Dessa vez, entretanto, tratei de ser rápido, pois sabia que minha mãe estava com a razão, meu banho já havia durado tempo demais.

Enxuguei o corpo ainda dentro do boxe, depois pulei para o tapetinho esticado no chão do banheiro. Vesti rapidamente a camiseta e a calça jeans que deixara sobre o banquinho de plástico. Depois, abri a gaveta ao lado da pia e retirei o secador, o pote de gel e a escova de cabelo para dar início ao ritual do topete.

A noite prometia ser agitada, apesar de não haver nenhuma balada rockabilly marcada para aquele sábado. Sempre bem informados, Tieta, Nique e Wilsão tinham descolado duas festas na região para a turma aparecer. Duas festas que, como era costume, trataríamos de tornar rockabillies.

Assim que terminei de ajeitar o topete, fui para o quarto. Diante do espelho, coloquei a camiseta branca para dentro da calça. Ensaiando alguns passos de dança, segui até o armário, onde peguei a bota preta que iria estrear naquela noite. A jaqueta de couro, no entanto, ficou pendurada no cabide, sendo substituída naquele dia por um casaco negro de veludo. Fazia pouco tempo que havia descoberto a aptidão roqueira daquele agasalho, herdado de um primo. A gola levantada e os botões da manga fechados conferiam ao casaco um ar bem ‘rocker’. Até passei a achá-lo muito parecido com o que James Dean usou em Juventude Transviada. “Dia desses ainda pinto esse casaco de vermelho, vai ficar igualzinho ao do Jimmy”, matutei enquanto levantava o zíper, tomando o cuidado de deixá-lo na altura do umbigo para garantir um ar mais rockabilly.

Antes de sair, separei alguns discos para levar. Jerry Lee Lewis, Bill Halley, Carl Perkins, Elvis Presley e Litle Richard eram alguns dos cantores representados nos LPs que empilhei sobre a cama. Peguei ainda as trilhas musicais dos filmes La Bamba e American Grafitti. Álbum duplo, repleto de canções roqueiras, esse último estava entre os meus favoritos. Todos eles traziam na capa o meu nome escrito à caneta. A medida era necessária para evitar que os discos se misturassem, durante as festas, aos dos demais integrantes da turma.