Sentado sobre o chão duro da quadra, reclinei meu tronco para trás, escorando-o sobre os braços esticados que mantinha apoiados no chão. Minha cabeça seguiu o mesmo movimento, fazendo com que meus olhos se fixassem por alguns instantes nas parcas estrelas do poluído céu paulistano. “Ééé, devia ter ficado em casa esta noite.”
Um ou outro roqueiro ainda disse alguma coisa, mas nada de importante, nada que alterasse qualquer coisa. A reunião estava terminada.
Endireitei novamente o tronco, depois bati uma mão contra a outra para tirar a poeira do piso. Antes de me levantar, puxei a manga esquerda da jaqueta, descobrindo o relógio que carregava no pulso.
-Caralho, já são mais de três e meia - comentei com o Cabeção enquanto me levantava.
-Essa noite já deu o que tinha que dar. Vamos nessa, Claudinho, que não vira mais nada.
-S`imbora - concordei com o amigo roqueiro, esticando a mão para ajudá-lo a levantar.
Segui conversando com o Cabeção na direção do canto da quadra onde estavam as meninas. No entanto, não concluímos a viagem, pois a Taciana logo veio ao nosso encontro.
- E aí, conseguiram acertar tudo? Pensei que essa conversa nunca fosse acabar - comentou a garota de cabelo castanho claro, cujos cachos curtos apenas tocavam o ombro.
- Demorou, né? Mas pelo menos ficou tudo esquematizado - respondeu o Cabeção, abraçando a namorada com o braço direito. - Vamos embora?
- Vamos, vamos sim - respondeu a garota, minha conhecida desde o período pré-rockabilly.
Como a noite já estava mais que encerrada para mim, resolvi me despedir do casal. Após beijar a Taciana e apertar a mão do amigo roqueiro, fiz um breve aceno de mão para o grupo de garotas reunido no canto da quadra. Me despedia delas por mera formalidade, pois não fazia nenhuma questão de ser notado naquele momento. Mas, quando me virava para ir embora, ouvi uma voz suave me chamando:
- Claudinho, você já vai?
- É, é, já...já tô indo - disse, voltando-me novamente na direção do grupo, ciente de quem era a dona daquela voz. - Agora, já não vira mais nada.
- Nem conseguimos conversar hoje. Também, andamos a noite toda, né?
- É verdade. Vocês já vão embora ou ainda vão ficar por aí? - perguntei, começando a me animar com a conversa.
- Não sei, vou ver o que o Nique quer fazer.
- Ah, é, o Nique - respondi com ar patético, voltando a ocupar meu insignificante posto no universo, justamente quando o garoto também chegava àquela parte da quadra.
Esbanjando a auto-confiança que o caracterizava, o Nique entrou na conversa: - Já vai nessa, Claudinho? Tá cedo ainda, vamos procurar mais uma festa aí pelo Bonfa.
- Valeu! Já deu minha hora. Vou nessa.
- Beleza, amanhã a gente conversa pra agitar as coisas da Gator’s.
- É isso aí, até mais - respondi, sem conseguir esconder o desânimo que me tomava.
Ergui a gola da jaqueta, enfiei as mãos nos bolsos e saí andando. Sem a gravidade de minutos antes, a turma de roqueiros continuava a conversar. As risadas altas e o vozerio animado sinalizavam que ninguém estava muito preocupado com o sono dos moradores das casas vizinhas à praça.
Em minha caminhada passei pelas ruas onde estivera no início da noite. A iluminação era a mesma de horas antes, mas a escuridão parecia maior. Nas janelas das salas não se via mais a luminosidade azulada das televisões. Tampouco havia faróis de carros para iluminar a via e, sobretudo, eu estava sozinho, entretido com minhas aflições.
O silêncio que demonstrava externamente durante o passeio solitário não refletia o falatório agitado que dominava minha cabeça. Impiedosas, as vozes pareciam ajudar meus ombros a se arquearem ainda mais, fazendo com que meus olhos mirassem cada vez mais fundo o asfalto que aguardava os meus passos. A impressão do fracasso também parecia tomar forma física, se transformando numa estranha sensação, pesadamente acumulada no meu peito.
“Puts, que merda, o Nique é um cara rabudo mesmo. Além disso, é bom de conversa. É, acho que a Carol tem razão. Devo ser o cara mais desinteressante da turma, talvez até do bairro ou da cidade... Quem sabe o Cabeção e uns outros excluídos como eu não querem formar uma outra turma? Ou talvez eu possa criar uma gangue com o Supondo, lá em Santos. Ou então, sozinho mesmo. Que nome eu poderia dar pra turma? Tem que ser de um bicho, em inglês. Bem, mas agora não vou lembrar o nome de porra nenhuma”, pensava enquanto percorria as silenciosas ruas do Bonfigliolli, escutando apenas o barulho distante dos carros que passavam pela rodovia.
Um ou outro roqueiro ainda disse alguma coisa, mas nada de importante, nada que alterasse qualquer coisa. A reunião estava terminada.
Endireitei novamente o tronco, depois bati uma mão contra a outra para tirar a poeira do piso. Antes de me levantar, puxei a manga esquerda da jaqueta, descobrindo o relógio que carregava no pulso.
-Caralho, já são mais de três e meia - comentei com o Cabeção enquanto me levantava.
-Essa noite já deu o que tinha que dar. Vamos nessa, Claudinho, que não vira mais nada.
-S`imbora - concordei com o amigo roqueiro, esticando a mão para ajudá-lo a levantar.
Segui conversando com o Cabeção na direção do canto da quadra onde estavam as meninas. No entanto, não concluímos a viagem, pois a Taciana logo veio ao nosso encontro.
- E aí, conseguiram acertar tudo? Pensei que essa conversa nunca fosse acabar - comentou a garota de cabelo castanho claro, cujos cachos curtos apenas tocavam o ombro.
- Demorou, né? Mas pelo menos ficou tudo esquematizado - respondeu o Cabeção, abraçando a namorada com o braço direito. - Vamos embora?
- Vamos, vamos sim - respondeu a garota, minha conhecida desde o período pré-rockabilly.
Como a noite já estava mais que encerrada para mim, resolvi me despedir do casal. Após beijar a Taciana e apertar a mão do amigo roqueiro, fiz um breve aceno de mão para o grupo de garotas reunido no canto da quadra. Me despedia delas por mera formalidade, pois não fazia nenhuma questão de ser notado naquele momento. Mas, quando me virava para ir embora, ouvi uma voz suave me chamando:
- Claudinho, você já vai?
- É, é, já...já tô indo - disse, voltando-me novamente na direção do grupo, ciente de quem era a dona daquela voz. - Agora, já não vira mais nada.
- Nem conseguimos conversar hoje. Também, andamos a noite toda, né?
- É verdade. Vocês já vão embora ou ainda vão ficar por aí? - perguntei, começando a me animar com a conversa.
- Não sei, vou ver o que o Nique quer fazer.
- Ah, é, o Nique - respondi com ar patético, voltando a ocupar meu insignificante posto no universo, justamente quando o garoto também chegava àquela parte da quadra.
Esbanjando a auto-confiança que o caracterizava, o Nique entrou na conversa: - Já vai nessa, Claudinho? Tá cedo ainda, vamos procurar mais uma festa aí pelo Bonfa.
- Valeu! Já deu minha hora. Vou nessa.
- Beleza, amanhã a gente conversa pra agitar as coisas da Gator’s.
- É isso aí, até mais - respondi, sem conseguir esconder o desânimo que me tomava.
Ergui a gola da jaqueta, enfiei as mãos nos bolsos e saí andando. Sem a gravidade de minutos antes, a turma de roqueiros continuava a conversar. As risadas altas e o vozerio animado sinalizavam que ninguém estava muito preocupado com o sono dos moradores das casas vizinhas à praça.
Em minha caminhada passei pelas ruas onde estivera no início da noite. A iluminação era a mesma de horas antes, mas a escuridão parecia maior. Nas janelas das salas não se via mais a luminosidade azulada das televisões. Tampouco havia faróis de carros para iluminar a via e, sobretudo, eu estava sozinho, entretido com minhas aflições.
O silêncio que demonstrava externamente durante o passeio solitário não refletia o falatório agitado que dominava minha cabeça. Impiedosas, as vozes pareciam ajudar meus ombros a se arquearem ainda mais, fazendo com que meus olhos mirassem cada vez mais fundo o asfalto que aguardava os meus passos. A impressão do fracasso também parecia tomar forma física, se transformando numa estranha sensação, pesadamente acumulada no meu peito.
“Puts, que merda, o Nique é um cara rabudo mesmo. Além disso, é bom de conversa. É, acho que a Carol tem razão. Devo ser o cara mais desinteressante da turma, talvez até do bairro ou da cidade... Quem sabe o Cabeção e uns outros excluídos como eu não querem formar uma outra turma? Ou talvez eu possa criar uma gangue com o Supondo, lá em Santos. Ou então, sozinho mesmo. Que nome eu poderia dar pra turma? Tem que ser de um bicho, em inglês. Bem, mas agora não vou lembrar o nome de porra nenhuma”, pensava enquanto percorria as silenciosas ruas do Bonfigliolli, escutando apenas o barulho distante dos carros que passavam pela rodovia.
Fera demais! Muito boa sua descrição da noite, onde tudo parecia não fazer mais sentido! Abração!
ResponderExcluirValeu, João! Fico feliz que tenha curtido!
ResponderExcluirGrande abraço!